A partir do século XX, o tutor assumiu o papel de orientador e acompanhante dos trabalhos acadêmicos, e é com este mesmo sentido que incorporou aos atuais programas de educação a distância (Sá, 1998).
A idéia de guia é a que aparece com maior força na definição da tarefa do tutor. Em vários textos aparece definido como o “guia, protetor ou defensor de alguém em qualquer aspecto”, enquanto o professor é alguém que “ensina qualquer coisa” (Litwin, 2001:93).
O bom tutor deve promover a realização de atividades e apoiar sua resolução, e não apenas mostrar a resposta correta; oferecer novas fontes de informação e favorecer sua compreensão. “Guiar, orientar, apoiar” devem se referir à promoção de uma compreensão profunda, e estes atos são responsabilidade tanto do docente no ambiente presencial como do tutor na modalidade a distância. Mais do que ensinar, trata-se de fazer aprender, concentrando-se na criação, na gestão e na regulação das situações de aprendizagem” (Perrenoud, 2000:139).
É preciso superar a postura ainda existente do professor transmissor de conhecimentos. Passando, sim, a ser aquele que imprime a direção que leva à apropriação do
conhecimento que se dá na interação. Interação entre aluno/aluno e aluno/professor, valorizando-se o trabalho de parceria cognitiva, elaborando-se situações pedagógicas onde as diversas linguagens estejam presentes.
A tutoria é necessária para orientar, dirigir e supervisionar o ensino-aprendizagem. Ao estabelecer o contato com o aluno, o tutor complementa sua tarefa docente transmitida através do material didático, dos grupos de discussão, listas, correio eletrônico, chats e de outros mecanismos de comunicação. Assim, torna-se possível traçar um perfil completo do aluno: por via do trabalho que ele desenvolve, do seu interesse pelo curso e da aplicação do conhecimento pós-curso.
Um melhor resultado do processo de aprendizagem na EAD passa, necessariamente, pela qualidade da interatividade que se estabelece entre os elementos que compõem o ambiente de aprendizagem. E este ambiente não se refere somente as ferramentas de suporte, de web, mas também na perspectiva da aprendizagem colaborativa. O tutor precisa ter a sensibilidade para “decifrar” seus alunos, observando o perfil de cada um, analisando suas participações, sua capacidade de se interagir, suas contribuições para o processo de aprendizagem.
O grande desafio é manter os alunos motivados, interessados no conteúdo abordado, desafiá-los a romper as barreiras do material impresso e buscar ir além, mas principalmente promover a interatividade. Para que esta interatividade efetivamente aconteça é o tutor deve se utilizar das ferramentas de chat, fóruns, vídeos, e-mail´s e sobretudo estar atento à participação do aluno, às suas colocações, aos pontos levantados, às criticas, enfim neste momento é muito importante o feedback do tutor. Os alunos precisam de uma resposta. È fundamental que o tutor dê este retorno, para que o aluno se sinta motivado a seguir em frente, e a partir daí vá criando seus laços e desertando para uma pesquisa além do ambiente de estudo. A interatividade entre alunos também é importante de ser observada, pois a partir das idéias de cada um que podem ser concordadas ou discordadas, o conhecimento vai sendo traçado, ampliando os horizontes. Os diálogos tutor/aluno e aluno/aluno devem ser estimulados, desafiadores, mas sobretudo construtores. Intervir na hora certa, ponderar, mas sobretudo respeitar o ritmo de cada um, valorizando o que há de bom e corrigindo o que não está tão bom assim.
Essa modalidade de ensino exige muita disciplina dos alunos, pois eles têm que construir sua autonomia, sua rotina de estudos, afinal são independentes. Cabe ao tutor mostrar os melhores caminhos que os levem a superar os obstáculos que vão surgindo. E esta autonomia não deve significar solidão, pois o aluno autônomo deve aprender a trabalhar em equipe, pois a distância física é apenas uma condição.
As relações que os alunos estabelecem com sua própria aprendizagem também apresentam variáveis. Alguns demonstram mais interesse em dominar o conteúdo, vão além do proposto, outros simplesmente cumprem as tarefas solicitadas.
As participações nas ferramentas de interatividade devem ser avaliadas pelo tutor com muita atenção e cuidado, observando a qualidade das participações, ao foco da discussão, e sobretudo, mediando eventuais conflitos que possam surgir nas discussões, levando em conta o grande poder que as palavras exercem nesse ambiente de aprendizagem e de construção de relações pessoais.
Os alunos devem ser levados ao exercício de se colocar no lugar do outro, ver com os olhos do outro, sob outro ponto de vista, enfim encontrar outros caminhos que levem ao local desejado, sempre respeitando as diferenças, os limites de cada membro do grupo, a opinião do tutor, que deve apontar as vantagens e desvantagens do uso das tecnologias disponíveis .
E ao final pensar juntos, compartilhar das mesmas idéias, chegarem a um objetivo comum, que é o aprendizado.
Para que a tutoria e a autonomia do aluno fluam de forma harmônica, é importante que o tutor conheça perfeitamente que posicionamento lhe reserva o ambiente interativo específico onde irá encontrar com seus alunos. As atitudes do tutor devem estar voltadas para que os alunos não desistam frente aos primeiros obstáculos, os alunos precisam sentir segurança, ter apoio, respaldo, até que de fato consigam se organizar quando ao tempo a ser dedicado em cada tarefa, à organização do material, a participações de ações coletivas, como atividades em grupos, chat´s, fóruns, etc...
Segundo Piaget “ autonomia é um procedimento de educação social que tende, como os demais, a ensinar os indivíduos a sair do egocentrismo para colaborar entre si e submeter-se às regras comuns”. Esta definição de Piaget nos leva a refletir muito profundamente na autonomia, pois o fato dar aulas não serem presenciais, não significa que o aluno não tenha regras à cumprir, ao contrario a autonomia deve levá-lo a estar apto a, cooperativamente, construir o sistema de regras morais e operatórias necessárias à manutenção de relações permeadas pelo respeito mútuo.
O grande desafio é levar os alunos a desenvolverem hábitos de pesquisa, que lhes permitam manter a motivação, para aprender e encontrar métodos de estudo adequados às suas próprias necessidades. O aluno tem como objetivo principal sua participação ativa no processo de aprendizagem.
Obviamente que na prática, nem tudo é tão fácil como parece, não há regra geral para a construção da autonomia, ela deve ser buscada, trabalhada de acordo com o perfil de cada aluno, e em determinados momentos há a necessidade da intervenção do tutor nas atividades, nós fóruns, para esclarecer algumas dúvidas, para amenizar eventuais conflitos, para direcionar o foco quando este estiver se desviando do proposto, mas sobretudo para motivar, elogiar, criticar positivamente, a fim de que o aluno não se sinta “sozinho”, isolado, sem rumo, à deriva e vá se disciplinando, se conhecendo, ultrapassando seus limites, rompendo as barreiras do conhecimento.
O tutor na função de facilitador do processo no ambiente da EAD é ao mesmo tempo um orientador, desafiador, deixando de ser um mero provedor de informações para ser gerenciador de entendimento. Assim na construção do saber, a tutoria trabalha em estruturar, orientar, estimular e provocar o aluno a construir o seu próprio saber. Importante lembrar que a autonomia é na verdade um processo, está presente desde o início do processo educativo, precisa ser reconhecida e incentivada, trabalhada e melhorada sempre.
Nosso papel como tutores de EAD é justamente possibiltar ao aluno a capacidade de “aprender a aprender”, através do desenvolvimento da compreensão “ do como e do porquê” as coisas acontecem. Cada um de nós, tutores e alunos, traz bagagens culturais, linguagens, expectativas, etc. A construção de uma verdadeira relação dialógica na tutoria é necessária, uma vez que nosso sucesso está diretamente relacionado à esta interação sutil e pessoal com cada um. A tarefa é ardua, mas o resultado é compensador.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEDEIROS, Leila.MACEDO,Margarete.AMARAL,Sergio.RIBEIRO, Vera.”Sistemas de Tutoria em Cursos a Distância”.
ROSA, Dalva E.Gonçalves. SOUZA, Vanilton Camilo de. FELDMAN, Daniel.”Didática e Praticas de Ensino: Interfaces com diferentes saberes e lugares formativos.Rio de Janeiro: DP&A,2002.
PERRENOUD, Philippe. “Construindo Competências”. In Revista Fala Mestre!Setembro de 2000.
LITWIN, Edith (org). Educação a Distância: Temas para Debate de uma Nova Agenda ducativa. Porto Alegre, Artmed, 2001.
SÁ, Iranita M. A. Educação a Distância: Processo Contínuo de Inclusão Social.
Fortaleza, C.E.C., 1998.